sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Caros Amigos.

Informamos que devido a problemas técnicos não haverá sessão hoje, dia 26 de setembro.

Abraço,
Caco.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Filme da semana: Cronicamente Inviável


O filme apresentado essa semana, dia 19 de setembro, às 21h10, será Cronicamente inviável.

Aguardamos todos lá.

Abraço,
Caco.

Sérgio Bianchi: Cronicamente inviável e Divina previdência

Sinopse:
O filme "Cronicamente Inviável" narra trechos das histórias de vida de seis personagens (Alfredo, Amanda, Adam, Carlos, Luis e Maria Alice), mostrando a dificuldade de sobrevivência mental e física em meio ao caos da sociedade brasileira, que atinge a todos independentemente da posição social ou da postura assumida. Estas situações têm como fio condutor um restaurante num bairro rico de São Paulo, que é de propriedade de Luis (Cecil Thiré). Ele é um homem de meia idade, refinado, acostumado com as boas maneiras, mas ao mesmo tempo irônico e pungente. Alfredo (Umberto Magnani) é um escritor que está realizando um estranho passeio pelo país, buscando compreender, a partir de uma visão ácida da realidade, os problemas de dominação e opressão social. Adam (Dan Stulbach), recém chegado do Paraná, é o mais novo garçom do restaurante de Luis, e se destaca dos demais empregados por sua descendência européia, tanto por seu aspecto físico, quanto por sua boa instrução e insubordinação. Maria Alice (Betty Gofman) é uma carioca classe média-alta que está sempre preocupada em manter o mínimo de humanidade na relação com as pessoas de classe mais baixa. É casada com Carlos (Daniel Dantas), um homem com uma visão pragmática da vida, que acredita na racionalidade como forma de tirar proveito da bagunça típica do Brasil. Amanda (Dira Paes), gerente do restaurante de Luis, é uma pessoa cativante, com um passado incerto, encoberto pelas várias histórias que costuma contar para os amigos e os refinados clientes do restaurante.

Crítica:
Neste programa, dois filmes reforçam a urgência de um cinema de confronto, provocação e polêmica, no panorama atual onde o cinema brasileiro anda cada vez mais comportado: o longa Cronicamente inviável, de 2000, e o curta Divina previdência, de 1983. Ambos exibem, e muitas vezes gritam, a preocupação com a representação da realidade social e política do país através das fraturas do tecido social de um mundo degradado ecologicamente, como nas imagens impressionantes de uma floresta amazônica queimada de Cronicamente, ou povoado por personagens acuadas e submetidas a massacres cotidianos, como o desgraçado indivíduo em busca de atendimento nas filas e na burocracia do sistema público de saúde de Divina previdência. Trata-se de um cinema que não tem medo de expor ao ridículo figuras detentoras do poder corrupto e institucionalizado, num acúmulo de tipos, situações e recorrências que explodem, de forma esgarçada, a linguagem do mundo organizado.

Sérgio Bianchi pertence a uma geração intermediária entre os realizadores pós-Cinema Novo, mais próximos do chamado “cinema marginal”, que surge entre as décadas de 1960 e 1970. Sua filmografia é marcada por uma aguda necessidade de questionar o país em suas tragédias nacionais, econômicas, culturais e sociais e a própria linguagem cinematográfica, que torna possível a representação do que vivenciamos como “Brasil”. Para isso, apaga as fronteiras entre o que se convencionou classificar como ficção e documentário. Em diferentes chaves, assiste-se ao cinema da distopia, onde o desencanto acompanha a reflexão enviesada sobre tudo aquilo que não deu e nem dá certo. O espectador é constantemente interpelado através de personagens que se dirigem diretamente à câmera e convidado a participar de um questionamento sem saída. A intenção, como deixa claro o primeiro plano de Cronicamente inviável, é incendiária. O fogo ateado a um ninho de vespas prepara o espectador, de certa maneira, para o que virá pela frente. A estrutura episódica encontrada neste filme parece servir de pretexto para mostrar uma espécie de colagem de microcosmos de histórias e motivações pessoais que inter-relacionam as mazelas do país com a agressividade necessária para abalar a indiferença e a anestesia reinantes. Trata-se de um cinema que vem ampliando seu caminho de radicalização diante dos “horrores” nacionais. Mas há espaço, também, para o humor, ainda que corrosivo e irônico, ainda que o riso provocado seja um riso de tom francamente “amarelo”.

A ironia e a ambigüidade presentes já a partir de títulos como Divina previdência ou Cronicamente inviável, encontram eco na crueldade anárquica do desencanto, da raiva e de uma certa impotência diante do inexorável. Em toda a sua filmografia, Bianchi nos parece muito mais interessado em levantar questões e provocar desconforto pela dificuldade de se encontrar respostas plausíveis para esses dilemas nacionais. Tal atitude tem o significado muitas vezes de uma crítica a um niilismo que atira em todas as direções. Entretanto, essa atitude é ainda mais verdadeira, sincera, vez que o próprio realizador não se posiciona num lado superior, inscrevendo-se, pela voz e pelo corpo, no círculo de ironia e crítica proposto pelos filmes. No fundo, Bianchi talvez pareça lutar por um desejo de transformação e, longe de qualquer atitude niilista, buscar exatamente um sentido (im)possível de ordem num horizonte (im)provável.

João Luiz Vieira é professor do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense e autor de, entre outros, Câmera-faca: o cinema de Sérgio Bianchi, publicado em Portugal (2004) pelo Festival de Cinema Luso Brasileiro de Santa Maria da Feira.

Ficha Técnica

Cronicamente Inviável
(SP, 2000, Fic, Cor, 35mm, Dolby Digital, 102´)
Direção: Sergio Bianchi
Roteiro: Sergio Bianchi e Gustavo Steinberg
Empresa produtora: Agravo Produções Cinematográficas
Produção executiva: Sergio Bianchi ,Gustavo Steinberg e Alvarina Souza Silva (RJ)
Direção de produção: Carmem Schenini e Rossine A. Freitas (RJ)
Diretor de fotografia: Marcelo Coutinho e Antonio Penido (RJ)
Montagem: Paulo Sacramento
Direção de arte: Beatriz Bianco, Pablo Vilar e Jean-Louis Leblanc (RJ)
Figurino: Beatriz Bianco e Luiza Marcier (RJ)
Técnico de som direto: Heron Allencar
Edição de som: Miriam Biderman
Mixagem: José Luiz Sasso
Estúdio de som: JLS

Elenco:
Cecil Thiré,
Betty Goffman,
Umberto Magnani,
Daniel Dantas,
Dira Paes,
Dan Stulbach,
Leonardo Vieira.








quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Sessão do dia 12 de setembro


Caros Amigos.

No dia 12 de setembro apresentaremos o drama brasileiro Amarelo Manga.

Seguem informações sobre o filme:

Amarelo Manga
Brasil, 2003, drama, 100 min.
Classificação Indicativa: 18 anos

Guiados pela paixão, os personagens de Amarelo Manga vão penetrando num universo feito de armadilhas e vinganças, de desejos irrealizáveis, da busca incessante da felicidade. O universo aqui é o da vida-satélite e dos tipos que giram em torno de órbitas próprias, colorindo a vida de um amarelo hepático e pulsante. Não o amarelo do ouro, do brilho e das riquezas, mas o amarelo do embaçamento do dia-a-dia e do envelhecimento das coisas postas. Um amarelo-manga, farto.
Direção: Cláudio Assis
Roteiro: Hilton Lacerda
Elenco: Matheus Nachtergaele, Jonas Bloch, Dira Paes, Chico Diaz, Leona Cavalli, Conceição Camarotti, Cosme Prezado Soares, Everaldo Pontes, Magdale Alves, Jones Melo
Empresa Produtora: Olhos de Cão Produções Cinematográficas
Produção: Paulo Sacramento

Sinopse: No subúrbio de Recife, Lígia (Leona Cavalli) acorda já mal humorada, pois terá de suportar mais um dia servindo fregueses, que às vezes a bolinam no bar onde trabalha. Quando o dia terminar, só lhe restará voltar ao seu pequeno quarto, em um anexo do bar, e dormir para suportar a mesma coisa no dia seguinte. Paralelamente Kika (Dira Paes), que é muito religiosa, está freqüentando um culto enquanto seu marido, Wellington (Chico Diaz), um cortador de carne, decanta as virtudes da sua mulher enquanto usa uma machadinha para fazer seu serviço. Neste instante no Hotel Texas, que também fica na periferia da cidade, Dunga (Matheus Nachtergaele), um gay que é apaixonado por Wellington, varre o chão antes de começar a fazer a comida. Na verdade ele é a pessoa mais polivalente no Texas, pois faz de tudo um pouco. Um hóspede do Hotel Texas, Isaac (Jonas Bloch), sente um grande prazer em atirar em cadáveres, que lhe são fornecidos por Rabecão, um funcionário do I.M.L. Apesar de decantar Kika, isto não impede de Wellington ter uma amante, que está cansada da situação e quer que ele tome logo uma decisão. Já Dunga pretende conseguir Wellington de outra forma, ou seja, fazendo um trabalho em um terreiro, assim de uma vez só ele "dá uma rasteira" na mulher e na amante. Isaac vai se encontrar no bar com Rabecão para lhe avisar que pode levar o cadáver. Lá ele conhece Lígia e sente vontade de ir com ela para a cama, mesmo com Rabecão lhe avisando que ninguém ali transou com ela.

Currículo do filme

Prêmios: - Melhor Filme - Fórum do Novo Cinema, concedido pela Federação Internacional dos Cinemas de Arte (CICAE) - 53o Festival de Berlim - Alemanha (2003)
- Melhor Filme - 15o Festival de Cinema Latino-Americano de Toulouse - França (2003)
- Melhor Filme de Diretor Estreante - Opera Prima - 25o Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano - Havana, Cuba (2003)
- Melhor Filme e Melhor Ator - 7º Festival de Cinema Luso Brasileiro de Santa Maria da Feira - Portugal (2003)
- Melhor Filme, Melhor Filme na escolha da Crítica, Melhor Filme na escolha do Público, Melhor Ator, Melhor Fotografia e Melhor Montagem - 35o Festival de Brasília - Brasil (2002)
- Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Música, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Montagem - 13o CineCeará - Brasil (2003)
- Melhor Fotografia - 7o Festival de Cinema Brasileiro de Miami - EUA (2003)
- Melhor Diretor e Melhor Montagem - APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte - São Paulo, Brasil (2003)
- Melhor Filme na escolha do público - Festival SESC dos Melhores Filmes - São Paulo, Brasil (2003)
- Melhor Fotografia - Grande Prêmio TAM do Cinema Brasileiro - Rio de Janeiro, Brasil (2004)

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Sessão dia 05 de setembro


Caros Amigos.

Nesse dia 05 de setembro apresentaremos o drama brasileiro "A hora da estrela".

Seguem informações:

A hora da estrela
Brasil, drama, 1985, 96 min.

Baseado no romance homônimo de Clarice Lispector, é primeiro longa-metragem de Suzana Amaral. Modelo fértil para a história da adaptação cinematográfica brasileira pela forma criativa com que trabalha o discurso literário e sua transposição para o cinema. Narra a tragédia social do retirante nordestino a partir do percurso de Macabéa, uma imigrante alagoana que abandona o Nordeste para viver na metrópole. Alcançou expressiva repercussão e conquistou alguns dos principais prêmios nos festivais de Brasília e Berlim.

Direção Suzana Amaral
Elenco:
Marcélia Cartaxo
José Dumont
Tamara Taxman
Fernanda Montenegro
Denoy de Oliveira
Sônia Guedes
Lisette Negreiros
Cláudia
Humberto Magnani


Literatura moderna transformada em ótimo filme clássico
Newton Cannito

A Hora da Estrela, de Suzana Amaral, é uma bem-sucedida adaptação do romance homônimo de Clarice Lispector.
No enredo, Macabéa é uma imigrante nordestina semi-analfabeta que trabalha como datilógrafa numa pequena firma e vive numa pensão. Ela conhece o também nordestino Olímpico, um operário metalúrgico, e os dois começam a namorar. Mas Glória, uma colega de trabalho de Macabéa, rouba-lhe o namorado, seguindo o conselho de uma cartomante. Macabéa faz uma consulta à mesma cartomante e esta prevê seu encontro com um homem rico, bonito e carinhoso. Macabéa sai feliz, sem saber o que a espera.
A comparação com o livro evidencia as opções estéticas da adaptação de Suzana Amaral. No livro, o narrador se esforça para entrar na mente do outro, do nordestino, e discorrer sobre um melodrama social. O tema social não é algo comum na obra de Clarice e, ao abordá-lo, ela optou pela metalinguagem, em um livro que discute as limitações e também as possibilidades do romance social.
O filme não se utiliza do personagem do narrador. Suzana Amaral partiu de um livro moderno e o transformou num filme de roteiro clássico. E um excelente filme clássico. O que no livro era uma reflexão sobre a possibilidade de contar uma história, no filme se transforma numa história muito bem contada. O livro era um meta melodrama-social e o filme tem a coragem de ser um melodrama social.
Para melhorar a narração dessa história, Suzana Amaral utiliza vários recursos clássicos. O roteiro constrói cenas de apresentação com os personagens em ação e divide alguns personagens do livro em dois, para possibilitar os diálogos típicos do modelo do drama.
Todos os outros recursos da linguagem cinematográfica também estão a serviço de contar bem a história. A direção é concisa e opta por se ocultar para deixar fluir melhor a história. Os atores interpretam seus personagens na dose certa, evitando a exacerbação do melodrama social ou da comédia popular. A performance valeu à Marcélia Cartaxo (Macabéa) um Urso de Prata em Berlim, em 1986. Diálogos do livro de Clarice foram mantidos praticamente na íntegra, em especial os excelentes trechos da relação entre Macabéa e Olímpico, que revelam muito sobre os imigrantes nordestinos. Tudo isso constrói um obra coesa. Tanto que o longa foi fartamente premiado no Festival de Brasília (1985) e Suzana foi escolhida melhor diretora em Havana (1986).
Uma outra comparação interessante é entre o longa-metragem de Suzana Amaral e o primeiro episódio da série ?Cena Aberta?, também uma adaptação de ?A Hora da Estrela?, dirigido por Jorge Furtado e disponível em DVD. No seriado, a história do livro é debatida e dramatizada por pessoas reais. Furtado inventou uma maneira de trazer para a adaptação audiovisual o que Clarice Lispector tinha introduzido no romance: uma reflexão sobre as dificuldades de contar uma história.
A comparação entre o livro, o filme de Suzana Amaral e a versão de Jorge Furtado serve como uma reflexão sobre as formas de contar histórias no cinema e na literatura.