SINOPSE
2006.
Léo (Cauã Reymond) é um jornalista que cobre eventos para jornais
de fora de São Paulo, cidade em que vive. Ele está com sérios
problemas financeiros, piorados devido ao atraso com que são pagos
os trabalhos que realiza. Ângela (Luíza Mariani) divide o
apartamento com Léo e tem um filho de 6 anos, que é praticamente
criado por sua empregada. Depressiva, ela fica boa parte do dia na
cama e à noite sai em busca de diversão. Em uma noite Léo resolve
gastar o pouco dinheiro que tem e, por acaso, encontra Ângela. Ela o
apresenta a Marcin (Caroline Abras), que se veste como homem mas
possui trejeitos de mulher. Logo ficam amigos e decidem beber, tendo
ainda a companhia de Wilson (João Miguel), um taxista que acredita
precisar de um psiquiatra. Aos poucos surge entre eles um forte laço
afetivo, aumentado ainda mais quando decidem aplicar um golpe.
FICHA
TÉCNICA
Brasil , 2008 -
120 ’Drama
Direção:
José Eduardo Belmonte
José Eduardo Belmonte
Roteiro:
José Eduardo Belmonte, Breno Alex e Luis Carlos Pacca
José Eduardo Belmonte, Breno Alex e Luis Carlos Pacca
Elenco:
Cauã Reymond, João Miguel, Caroline Abras, Luiza Mariani, Adriana Lodi, Murilo Grossi, Milhem Cortaz, Eucir de Souza
Cauã Reymond, João Miguel, Caroline Abras, Luiza Mariani, Adriana Lodi, Murilo Grossi, Milhem Cortaz, Eucir de Souza
Há
um momento singelo em Se Nada Mais der
Certo, cheio de significado, que resume
bem o filme: o jornalista Léo (Cauã Reymond)
já está sem dinheiro há algum tempo, e as dívidas se acumulam;
sobre a mesa, no apartamento, vemos uma conta de luz toda rabiscada
com lápis de cor, desenhos do filho pequeno
da namorada de Léo.
A
classe média sem norte, nesse limbo brasileiro que está entre o
paternalismo dedicado às classes baixas e as regalias cedidas aos
abastados, é o tema predileto até aqui do cineasta José
Eduardo Belmonte, que começou a chamar a
atenção do público com o seu segundo longa-metragem, A
Concepção (2005). Enquanto o segundo
filme dessa leva temática, Meu Mundo em
Perigo (2007), permanece inédito no
circuito, estreia o terceiro.
Se
Nada Mais der Certo joga não só com
esse contexto social, pós-despolitização (a Era do Pragmatismo de
Lula e Alckmin se estende à conduta de vários personagens no
decorrer do filme, afinal, 100 reais é 100 reais), mas também com
uma certa herança geracional, como se a situação viesse se
inflamando desde sempre.
Não
por acaso, conflitos de pais e filhos pontuam
a história de três pessoas que se encontram num momento de
desespero: o jornalista Léo, o taxista Wilson (João
Miguel), que herdou o ofício do pai,
e a traficante Marcin (Caroline Abras),
que, esticando um pouco o conceito, vive relação filial com o
travesti Sybelle (Milhem Cortaz).
São
três personagens órfãos na prática, abandonados pelo sistema à
própria sorte, à espera de um milagre, e que só encontram uma
identidade e uma catarse enquanto coletivo. A utilização de faixas
da trilha sonora de Os Saltimbancos faz
a ponte com a abertura política pós-ditadura - mais um momento
nacional de esperanças frustradas - e canta com todas as
letras: "todos nós no mesmo barco,
não há nada pra temer".
É
de uma utopia marxista tremenda, não é? Acontece que Belmonte sabe
perceber os furos na teoria: como numJules e
Jim da Baixa Augusta, não dá pra negar
as individualidades nesse trio-ternura. Explicar melhor esse trecho
do filme seria entregar demais; o caso é que não há pragmatismo
que aguente se por dentro houver uma dose curtida de rancor.
Filmando
pelos bordéis hoje hypados da
velha Boca do Lixo, deixando-se iluminar pelos neons em ambientes
naturalmente noturnos, o diretor de fotografia André
Lavenere captura bem a carência dos
personagens. Mais para o final, o texto de Belmonte (coescrito
com Breno Alex e Luis
Carlos Pacca) leva demais a sério os
diálogos em off de
Léo, como se fossem algo além de filosofia de botequim, mas não é
nada que vitime o filme. Há força nas imagens, seja nos close-ups
em Caroline Abras (que tem os olhos tristes de uma Chloë Sevigny),
seja em pequenos achados, como o álbum de figurinhas.
Se
Nada Mais der Certo tem essa rara
qualidade de filmes que sabem bem a carga de significados contida na
escolha de suas imagens, e ao mesmo tempo não se deixam sufocar pelo
esquematismo do cinema de simbolismo.