Sessão dos Amigos do Cinema dia 01/06/09
Local: Centro de Cultura da Estação Férrea
Hora: 20 horas
Filme: TIME, de Kin Ki Duk
Após a sessão ocorre debate com os espectadores e a diretoria do cineclube
Sinopse
A insegurança de Se-hui (Park) na relação com Ji-u (Ha) leva-a a comportamentos histéricos e embaraçosos em locais públicos. Convencida que o namorado está farto dela, decide afastar-se para fazer uma operação plástica. Ji-u continua à espera do regresso de Se-hui, desconhecendo que ela mudou de fisionomia. Entretanto, é tentado por outras mulheres, incluindo a nova empregada da coffee shop que frequenta, Sae-hui (Seong).
Ficha Técnica
Título Original: Shi Gan
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 97 minutos
Ano de Lançamento (Japão / Coréia do Sul): 2006
Estúdio: Kim Ki-Duk Film / Happinet Pictures
Distribuição: California Filmes
Direção: Kim Ki-Duk
Roteiro: Kim Ki-Duk
Produção: Kim Ki-Duk
Música: Noh Hyung-Woo
Fotografia: Sung Jong-Moo
Desenho de Produção: Choi Keun-Woo
Edição: Kim Ki-Duk
Elenco
Ha Jung-Woo (Ji-Woo)
Park Ji-Yeon (Seh-Hee)
Kim Sung-Min (Cirurgião plástico)
Seo Yeong-Hwa
Kim Ji-Heon
Comentário por Eric Novello
Time é mais uma obra instigante do cineasta coreano Kim-Ki-Duk. Dessa vez, a brincadeira com linguagem começa no título. Time é o loop criado com o início e o fim do filme, é a paranóia com idade e a obsessão por plásticas, é a idéia de que as pessoas enjoam uma das outras com o passar do tempo, a dificuldade de seguir adiante.
Kim-Ki-Duk sempre trabalha com o conceito de ausência. O que não está tem por vezes mais importância do que o que podemos ver ou ouvir. Em Primavera, verão, outono, inverno… primavera já havia o conceito do cíclico, como o nome indica. O filme se passava em uma cabana no meio de um lago dentro de uma grande floresta, e a ausência de civilização criava a ausência das palavras. Casa vazia trouxe o silêncio para o meio da cidade, e ao fugir do cenário da natureza, a ausência do som se potencializou. São raras as falas, e não há adequação dos personagens ao meio. O grande objetivo do personagem principal é ser invisível, a expressão máxima da ausência para um ator. O arco, seu trabalho seguinte, extrapolou o silêncio, mas o devolveu para o cenário bucólico. Ficou então a pergunta, o que Kim-Ki-Duk faria em seu próximo filme? Time é um filme verborrágico na maior parte do tempo. As pessoas não só gostam de se comunicar, como têm na fala uma arma contra o mundo. É pela fala que identificamos o ciúme exagerado da protagonista e suas paranóias. Pelos seus escândalos (cômicos) somos informados do seu estado psicológico fragilizado. É dela que virá a primeira grande ausência do filme, a da imagem. Certa de que o namorado enjoou de seu rosto, ela resolve fazer uma plástica. A transformação externa assume-se como símbolo do vazio interior. Após a cirurgia – e sim, o diretor nos brinda com uma cena aterrorizante de cirurgias plásticas reais, os cortes são inacreditáveis e desagradáveis, mas só aparecem uma vez, o suficiente para gerar impacto e reflexão – a personagem decide desaparecer por seis meses, até poder tirar a atadura. Esvazia o apartamento e some sem avisar ao namorado. Na maior parte do filme acompanhamos o namorado e sua solidão, a descoberta da plástica e a neurose crescente por saber que qualquer mulher ao redor pode ser o seu amor perdido. A ausência flerta com o real e vira uma crítica à perda de identidade no hipermodernismo. Passado entre o centro da cidade e um bosque com esculturas eróticas deformadas, Time não é um filme para qualquer um (Kim-Ki-Duk nunca foi), é um filme para quem gosta de cinema e sente a necessidade urgente de entendê-lo. Nele, nada é mastigado e tudo parece fruto do acaso, mas não existe nada mais trabalhoso e estudado do que o processo de parecer simples na tela do cinema. (Eric Novello é escritor e roteirista, formado no Instituto brasileiro de audiovisual - Escola de cinema Darcy Ribeiro)
Premiações
- Ganhou o prêmio de Melhor Ator (Ha Jung-Woo), no Fantasporto.