sábado, 13 de julho de 2013

Documentário "Nelson Cavaquinho" e debate com Prof.ª Sandra Richter

Nelson Cavaquinho, documentário de Leon Hirzman (1969 - 18 minutos)



"Nelson Cavaquinho na intimidade"
por Fernando de Oliveira (Diário Regional)

Fechando o seu primeiro ciclo de filmes de 2013, dedicado a cinebiografias de grandes artistas do século 20, a Associação Amigos do Cinema de Santa Cruz do Sul mostra em DVD Nelson Cavaquinho, sobre o famoso sambista e compositor carioca, na sessão desta terça-feira, 16, a partir das 20 horas, no auditório do SindiBancários (Rua 7 de Setembro, nº 489), com entrada franca.
Após a exibição, a pesquisadora de Educação e professora da Unisc Sandra Richter (leia sua entrevista abaixo) conduz debate em torno dos filmes apresentados até aqui pela nova diretoria da Associação: Pina, Goya em Bordeaux, Caravaggio e este Nelson Cavaquinho.

Realizado pelo saudoso Leon Hirszman (1937-1987) há 45 anos, Nelson Cavaquinho é um documentário curto (tem 18 minutos apenas), mas que deixa muito longa “no chinelo”, para usar uma expressão que está na boca do povo.
Aqui, a câmera de Hirszman, que tinha grande interesse em personagens da cultura popular, capta sem censura imagens da intimidade do lendário Nelson Cavaquinho (1911-1986).
Mostra o autor de Vou Partir e Folhas Secas em sua paupérrima casa, no bar e no terreiro num subúrbio no Rio de Janeiro falando sobre sua trajetória e conversando e tocando com amigos, hora bêbado, hora sóbrio.
O que emerge daí é um retrato contundente – certamente feito para chocar a burguesia – não somente do artista (uma figura que se revela enigmática a cada plano), mas também do seu meio, um meio à margem da sociedade, esquecido pelo Estado e imerso na extrema pobreza, onde um pai dar cerveja para os filhos beberem é algo “comum”, como frisa a câmera do cineasta.
Embora seja um filme quase cinquentenário, Nelson Cavaquinho dialoga – e muito – com a realidade brasileira contemporânea.

“A melhor forma de educar é conversar”

Na casa da professora e pesquisadora Sandra Richter - que fala na Associação Amigos do Cinema após a exibição de Nelson Cavaquinho na terça-feira - respira-se cultura. Há estantes abarrotadas de livros, filmes e CD´s por toda a parte. Foi ali que ela recebeu o repórter do Diário na tarde dessa sexta-feira para a breve conversa que você lê a seguir.

Diário Regional - Qual será o foco do debate que a senhora conduzirá?
Sandra Richter - Minha expectativa é trocar algumas ideias sobre os quatro filmes exibidos neste ciclo, como seus diretores Wim Wenders, Carlos Saura, Derek Jarman e Leon Hirszman retrataram, respectivamente, personalidades como Pina Bausch, Francisco de Goya, Caravaggio e Nelson Cavaquinho e as ligações entre cada um desses filmes.

DR - E que diálogo há entre essas cinebiografias?
Sandra - São filmes que mostram uma narrativa que provoca o modo de ver e de pensar o trabalho e a vida dos artistas que retratam. Wenders foca a poesia de Pina, Saura a imaginação de Goya, Jarman a força do fazer pictórico de Caravaggio e Hirszman a coisa da força da vida presente em Nelson Cavaquinho. São obras que se complementam.

DR - Um importante, mas pouco conhecido cineasta norte-americano chamado Preston Sturges disse que “o cinema é o maior instrumento de educação já inventado”. O que pensa disso?
Sandra - A melhor forma de educar é conversar. Eu não saberia dizer se o cinema é “o melhor instrumento de educação já inventado”. Eu acho que o cinema é apenas um dos instrumentos, porque existem outras formas de arte também importantes, como a poesia, por exemplo, que tem um alto potencial de educação e, infelizmente, não dispõe dos mesmos canais de difusão do cinema. Não podemos considerar somente o cinema como o melhor instrumento de educação, pois temos que valorizar a diversidade.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Caravaggio por Derek Jarman

Filme sobre o pintor italiano de autoria do polêmico diretor britânico é atração na Associação Amigos do Cinema na terça-feira.

Fernando de Oliveira (Santa Cruz do Sul)

Pioneiro do cinema independente britânico que tinha “ojeriza” de filmes para as massas, o polêmico Derek Jarman, falecido em 1994 de Aids, era fascinado pelo pintor italiano Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610) e, na ausência de bibliografia sobre o artista, decidiu investigar sozinho sua trajetória, o que resultou na cinebiografia Caravaggio (1986) - que a Associação Amigos do Cinema exibe em DVD nesta-terça, 9, no auditório do SindiBancários (Rua 7 de Setembro, nº 489, em Santa Cruz), com entrada gratuita.
É uma obra arrebatadora e controversa, filmada com baixo orçamento num armazém em Londres. Nela, Jarman recria livremente e com elementos autobiográficos a vida de Caravaggio, gênio da pintura barroca que usava camponeses e populares como modelos para suas telas e deu realismo à arte sacra.
A cena inicial mostra Caravaggio (Nigel Terry) deitado em seu leito de morte, delirando de febre sob os cuidados de um jovem empregado, que pode ser seu amante.
Na sequência, flashbacks repassam a vida do artista: as primeiras pinceladas, a amizade com um cardeal, o triângulo amoroso com o amigo Ranuccio (Sean Bean) e a prostituta Lena (Tilda Swinton), a realização de telas consideradas blasfemas por alguns líderes da Igreja Católica até sua morte, aos 39 anos.
O Caravaggio de Jarman, cuja mise-em-scène assemelha-se a do francês Robert Bresson, é um prato cheio para os apreciadores de arte. E foi definido pelo crítico de cinema Colin MacCabe como “um dos poucos filmes biográficos sobre um artista que realmente mostra aquilo que está na ponta de seu pincel”.