"Nelson Cavaquinho na intimidade"
por Fernando de Oliveira (Diário Regional)
Fechando o seu primeiro ciclo de filmes de 2013, dedicado a cinebiografias de grandes artistas do século 20, a Associação Amigos do Cinema de Santa Cruz do Sul mostra em DVD Nelson Cavaquinho, sobre o famoso sambista e compositor carioca, na sessão desta terça-feira, 16, a partir das 20 horas, no auditório do SindiBancários (Rua 7 de Setembro, nº 489), com entrada franca.
Após a exibição, a pesquisadora de Educação e professora da Unisc Sandra Richter (leia sua entrevista abaixo) conduz debate em torno dos filmes apresentados até aqui pela nova diretoria da Associação: Pina, Goya em Bordeaux, Caravaggio e este Nelson Cavaquinho.
Realizado pelo saudoso Leon Hirszman (1937-1987) há 45 anos, Nelson Cavaquinho é um documentário curto (tem 18 minutos apenas), mas que deixa muito longa “no chinelo”, para usar uma expressão que está na boca do povo.
Aqui, a câmera de Hirszman, que tinha grande interesse em personagens da cultura popular, capta sem censura imagens da intimidade do lendário Nelson Cavaquinho (1911-1986).
Mostra o autor de Vou Partir e Folhas Secas em sua paupérrima casa, no bar e no terreiro num subúrbio no Rio de Janeiro falando sobre sua trajetória e conversando e tocando com amigos, hora bêbado, hora sóbrio.
O que emerge daí é um retrato contundente – certamente feito para chocar a burguesia – não somente do artista (uma figura que se revela enigmática a cada plano), mas também do seu meio, um meio à margem da sociedade, esquecido pelo Estado e imerso na extrema pobreza, onde um pai dar cerveja para os filhos beberem é algo “comum”, como frisa a câmera do cineasta.
Embora seja um filme quase cinquentenário, Nelson Cavaquinho dialoga – e muito – com a realidade brasileira contemporânea.
“A melhor forma de educar é conversar”
Na casa da professora e pesquisadora Sandra Richter - que fala na Associação Amigos do Cinema após a exibição de Nelson Cavaquinho na terça-feira - respira-se cultura. Há estantes abarrotadas de livros, filmes e CD´s por toda a parte. Foi ali que ela recebeu o repórter do Diário na tarde dessa sexta-feira para a breve conversa que você lê a seguir.
Diário Regional - Qual será o foco do debate que a senhora conduzirá?
Sandra Richter - Minha expectativa é trocar algumas ideias sobre os quatro filmes exibidos neste ciclo, como seus diretores Wim Wenders, Carlos Saura, Derek Jarman e Leon Hirszman retrataram, respectivamente, personalidades como Pina Bausch, Francisco de Goya, Caravaggio e Nelson Cavaquinho e as ligações entre cada um desses filmes.
DR - E que diálogo há entre essas cinebiografias?
Sandra - São filmes que mostram uma narrativa que provoca o modo de ver e de pensar o trabalho e a vida dos artistas que retratam. Wenders foca a poesia de Pina, Saura a imaginação de Goya, Jarman a força do fazer pictórico de Caravaggio e Hirszman a coisa da força da vida presente em Nelson Cavaquinho. São obras que se complementam.
DR - Um importante, mas pouco conhecido cineasta norte-americano chamado Preston Sturges disse que “o cinema é o maior instrumento de educação já inventado”. O que pensa disso?
Sandra - A melhor forma de educar é conversar. Eu não saberia dizer se o cinema é “o melhor instrumento de educação já inventado”. Eu acho que o cinema é apenas um dos instrumentos, porque existem outras formas de arte também importantes, como a poesia, por exemplo, que tem um alto potencial de educação e, infelizmente, não dispõe dos mesmos canais de difusão do cinema. Não podemos considerar somente o cinema como o melhor instrumento de educação, pois temos que valorizar a diversidade.
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