Caros Amigos.
Nesse dia 05 de setembro apresentaremos o drama brasileiro "A hora da estrela".
Seguem informações:
A hora da estrela
Brasil, drama, 1985, 96 min.
Baseado no romance homônimo de Clarice Lispector, é primeiro longa-metragem de Suzana Amaral. Modelo fértil para a história da adaptação cinematográfica brasileira pela forma criativa com que trabalha o discurso literário e sua transposição para o cinema. Narra a tragédia social do retirante nordestino a partir do percurso de Macabéa, uma imigrante alagoana que abandona o Nordeste para viver na metrópole. Alcançou expressiva repercussão e conquistou alguns dos principais prêmios nos festivais de Brasília e Berlim.
Direção Suzana Amaral
Elenco:
Marcélia Cartaxo
José Dumont
Tamara Taxman
Fernanda Montenegro
Denoy de Oliveira
Sônia Guedes
Lisette Negreiros
Cláudia
Humberto Magnani
Literatura moderna transformada em ótimo filme clássico
Newton Cannito
A Hora da Estrela, de Suzana Amaral, é uma bem-sucedida adaptação do romance homônimo de Clarice Lispector.Newton Cannito
No enredo, Macabéa é uma imigrante nordestina semi-analfabeta que trabalha como datilógrafa numa pequena firma e vive numa pensão. Ela conhece o também nordestino Olímpico, um operário metalúrgico, e os dois começam a namorar. Mas Glória, uma colega de trabalho de Macabéa, rouba-lhe o namorado, seguindo o conselho de uma cartomante. Macabéa faz uma consulta à mesma cartomante e esta prevê seu encontro com um homem rico, bonito e carinhoso. Macabéa sai feliz, sem saber o que a espera.
A comparação com o livro evidencia as opções estéticas da adaptação de Suzana Amaral. No livro, o narrador se esforça para entrar na mente do outro, do nordestino, e discorrer sobre um melodrama social. O tema social não é algo comum na obra de Clarice e, ao abordá-lo, ela optou pela metalinguagem, em um livro que discute as limitações e também as possibilidades do romance social.
O filme não se utiliza do personagem do narrador. Suzana Amaral partiu de um livro moderno e o transformou num filme de roteiro clássico. E um excelente filme clássico. O que no livro era uma reflexão sobre a possibilidade de contar uma história, no filme se transforma numa história muito bem contada. O livro era um meta melodrama-social e o filme tem a coragem de ser um melodrama social.
Para melhorar a narração dessa história, Suzana Amaral utiliza vários recursos clássicos. O roteiro constrói cenas de apresentação com os personagens em ação e divide alguns personagens do livro em dois, para possibilitar os diálogos típicos do modelo do drama.
Todos os outros recursos da linguagem cinematográfica também estão a serviço de contar bem a história. A direção é concisa e opta por se ocultar para deixar fluir melhor a história. Os atores interpretam seus personagens na dose certa, evitando a exacerbação do melodrama social ou da comédia popular. A performance valeu à Marcélia Cartaxo (Macabéa) um Urso de Prata em Berlim, em 1986. Diálogos do livro de Clarice foram mantidos praticamente na íntegra, em especial os excelentes trechos da relação entre Macabéa e Olímpico, que revelam muito sobre os imigrantes nordestinos. Tudo isso constrói um obra coesa. Tanto que o longa foi fartamente premiado no Festival de Brasília (1985) e Suzana foi escolhida melhor diretora em Havana (1986).
Uma outra comparação interessante é entre o longa-metragem de Suzana Amaral e o primeiro episódio da série ?Cena Aberta?, também uma adaptação de ?A Hora da Estrela?, dirigido por Jorge Furtado e disponível em DVD. No seriado, a história do livro é debatida e dramatizada por pessoas reais. Furtado inventou uma maneira de trazer para a adaptação audiovisual o que Clarice Lispector tinha introduzido no romance: uma reflexão sobre as dificuldades de contar uma história.
A comparação entre o livro, o filme de Suzana Amaral e a versão de Jorge Furtado serve como uma reflexão sobre as formas de contar histórias no cinema e na literatura.