quarta-feira, 29 de julho de 2009

O Homem que Virou Suco. Nesta segunda (03/08) às 20h na Estação

Caros amigos, nesta segunda teremos um programa duplo, com um curta e um longa.
Histórias populares do Nordeste estão neste programa composto de dois filmes realizados na mesma época. São as histórias transmitidas oralmente que eventualmente se transformam em literatura de cordel e em canções. A animação pernambucana A saga da Asa Branca ilustra, em estilo de cordel, a célebre toada Asa Branca, de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, gravada pelo rei do baião pela primeira vez em 1947. Também em estilo de cordel, O homem que virou suco é um dos filmes mais contundentes e fascinantes sobre o tema da migração nordestina para São Paulo. Nele, o ator José Dumont desempenha duplo papel, de dois migrantes em que um assassino e um cantador são confundidos. Diversão e reflexão.



* A Saga da Asa Branca
Lula Gonzaga , RJ, 1979
* O Homem que Virou suco
João Batista de Andrade , SP, 1979


Seguem abaixo as sinopses, fichas técnicas e crítica dos filmes.

O Homem que Virou Suco
Sinopse
A história segue Deraldo, um poeta popular nordestino recém chegado a São Paulo, onde tenta sobreviver de sua poesia e folhetos. Confundido com o operário de uma multinacional que mata o patrão, é perseguido pela polícia e perde sua identidade e condição de cidadão. Através de Deraldo, o filme acompanha o caminho do trabalhador migrante numa cidade grande: a construção civil, os serviços domésticos e subempregos sujeitos à violência e à humilhação. E segue a luta de Deraldo para reconquistar sua liberdade e preservar sua identidade.

Ficha de Informações do Filme
Título: O Homem que Virou suco
Duração: 97 min e 0 seg.
Ano: 1979
País: Brasil
Gênero: Ficção
Subgênero: Suspense
Cor: Colorido

Direção: João Batista de Andrade
Roteiro: João Batista de Andrade
Elenco: José Dumont, Célia Maracajá, Ruth Escobar, Denoy de Oliveira, Renato Máster, Ruthnéia de Moraes, Barros Freire, Rafael de Carvalho.
Empresa Co-produtora: RAIZ PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS
Produção Executiva: Assunção Hernandes
Direção de Produção: Wagner Carvalho
Direção Fotografia: Aloysio Raulino
Montagem/Edição: Alain Fresnot
Cenografia: Marisa Rebolo
Figurino: Marisa Rebolo
Técnico de Som Direto: Romeu Quinto
Mixagem: Walter Rogério
Trilha Musical: Vital Farias
Suporte de Captação: 35mm
Som: Sonoro Mono

Classificação Indicativa: 16 anos

Currículo do filme
Prêmios: Medalha de Ouro (Melhor Filme) no Festival Internacional de Moscou (1981); Prêmio Mérito Humanitário da Juventude Soviética de Moscou (1981); Prêmio Especial da Crítica no Festival de Memórias Operárias de Névers, França (1983); Melhor ator no Festival de Brasília para José Dumont (1980) Melhor roteiro, ator principal e ator coadjuvante no IX Festival de Cinema Brasileiro de Gramado (1981); Melhor Ator Festival de Huelva (1983), Prêmio Air France de Cinema (1980); Prêmio Qualidade Brasil Concine (1983); Prêmio São Saruê, concedido pela Federação dos Cineclubes do Rio de Janeiro (1983).

A Saga da Asa Branca
Sinopse
Asa Branca é um pássaro de arribação que voa do sertão quando percebe que a seca vai chegar. O filme é um "semidocumentário" em desenho animado, que retrata o pássaro e o sertanejo com sua mulher (Bernardino e Rosinha), partindo da sua terra com a chegada da estiagem. Com texto e narração de Humberto Teixeira, compositor da música Asa Branca, foi este o único trabalho de Humberto no cinema e também seu último trabalho. Na trilha sonora, o arranjo sinfônico do maestro Guerra Peixe.

Ficha de Informações do Filme
Título: A Saga da Asa Branca
Duração: 7 min
Ano: 1979
País: Brasil
Gênero: Animação
Subgênero: Suspense
Cor: Colorido

Direção: Lula Gonzaga
Roteiro: Silvana Delácio
Elenco: Vozes: Humberto Teixeira
Empresa Co-produtora: A SAGA AUDIOVISUAL
Produção Executiva: Lula Gonzaga
Direção de Produção: Lula Gonzaga
Direção Fotografia: Ronaldo Cânfora - Pan Studio
Direção de Arte: Lula Gonzaga
Trilhas musical: Asa Branca de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, com arranjo sinfônico de Guerra Peixe
Som: Sonoro Mono

Classificação Indicativa: Livre


Crítica
CLÁSSICO E POPULAR
Carlos Alberto Mattos

O Homem que virou suco é exemplo típico - e um dos melhores - de um conjunto de operações que o cinema brasileiro fazia na segunda metade da década de 1970 para estabelecer um diálogo melhor com o público, sem trair as conquistas estéticas do Cinema Novo e do Cinema Marginal.

Para começar, o filme reelabora padrões da narrativa clássica com ingredientes de um cinema popular. Basicamente, é a história do duplo (expressionismo alemão) e do homem errado (policial estadunidense) que se desenrola entre Severino e Deraldo, os dois sósias nordestinos envolvidos num equívoco criminal. O tema igualmente clássico do imigrante é tratado desde o título, e em toda sua extensão, como material de literatura de cordel. Assim o diretor procura fundir seu filme com formas de representação características do povo nordestino.
Naquele período, o cinema brasileiro também experimentava uma crescente simbiose entre práticas do documentário e da ficção, num movimento iniciado por Iracema - Uma transa amazônica, em 1974, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna. Daí a importância da improvisação nos diálogos, de uma relação especialmente livre entre câmera e atores e até de uma certa submissão da técnica às condições do local de filmagem.
Por fim, vemos um diretor que não abre mão de seu passado. É nas seqüências de rua que João Batista de Andrade semeia os ecos de sua militância no cinema marginal paulista anos antes, quando era comum promover-se performances em praça pública para que o filme absorvesse o inesperado da participação popular.
Esta denúncia do esmagamento dos deraldos e severinos, seja pela marginalização, seja pela inserção aviltante, conta com a sensibilidade do diretor para criar uma poética em meio ao drama e à comédia. As cenas da batida policial noturna e da leitura da carta no alojamento dos operários são reveladoras de um olhar humanista que transcende toda urgência e objetividade.
A presença de José Dumont, no filme que o revelou plenamente, extrapola a mera questão cênica. No fundo, é o próprio ator que está na pele de Deraldo, ele que também chegou da Paraíba sem documentos e soube se impor pelas artes do talento. Coisa semelhante se passou com o próprio filme, lançado em 1980 sem maior repercussão e "redescoberto" pelos brasileiros depois de vencer o Festival de Moscou. O suco, portanto, só veio depois da vodka.
O curta que complementa este programa reverbera o tema da imigração a partir de outro ícone da cultura nordestina: a canção Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Uma animação naïf, mas expressiva, reitera o drama da fuga para um sonho impossível.

* Crítico e pesquisador de cinema, autor de livros sobre Walter Lima Jr., Eduardo Coutinho, Carla Camurati, Jorge Bodanzky e Maurice Capovilla. Crítico de O Globo, do site criticos.com.br e autor do DocBlog / Globo Online.

sábado, 25 de julho de 2009

Deus e o diabo na terra do sol. Nesta segunda, às 20h, na Estação

Prezados Amigos do Cinema, nesta segunda, na nossa sessão das 20 horas na Estação Férrea, teremos um clássico do cinema brasileiro e mundial, Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha.

Sinopse
Revoltado contra a exploração de que é vítima por parte do coronel Morais, o vaqueiro Manuel mata-o durante uma briga. Começa então a fuga de Manuel e de sua esposa Rosa, que são perseguidos por jagunços até se integrarem aos seguidores do beato Sebastião, no lugar sagrado de Monte Santo. Ao mesmo tempo, o matador de aluguel Antônio das Mortes, a serviço dos latifundiários e da Igreja Católica, extermina os seguidores do beato, o que faz com que o casal tenha de continuar fugindo e se encontre com Corisco, cangaceiro remanescente do bando de Lampião.

Ficha de Informações do Filme
Título: Deus e o Diabo na Terra do Sol
Duração: 110 min e 0 seg.
Ano: 1964
Cidade: UF(s): BA País: Brasil
Gênero: Ficção
Subgênero: Suspense
Cor: PB
Ficha Técnica
Direção: Glauber Rocha
Roteiro: Glauber Rocha e Walter Lima Jr.
Assistente de Direção: Paulo Gil Soares, Walter Lima Jr.
Elenco: Geraldo Del Rey, Yoná Magalhães, Maurício do Valle, Othon Bastos, Sebastião; Sônia dos Humildes - Dadá;
Empresa(s) Co-produtora(s): Copacabana Filmes
Produção Executiva: Luiz Augusto Mendes
Direção de Produção: Agnaldo Azevedo
Direção Fotografia: Waldemar Lima
Montagem/Edição: Rafael Justo Valverde e Glauber Rocha
Direção de Arte: Paulo Gil Soares
Figurino: Paulo Gil Soares
Técnico de Som Direto: Aluísio Viana, Geraldo José e Rafael Valverde
Edição Som: Rafael Valverde
Mixagem: Rafael Valverde
Trilha: Sérgio Ricardo, Glauber Rocha e Heitor Villa-Lobos.
Dados Técnicos
Som: Sonoro Mono
Classificação Indicativa: 14 anos
Currículo do filme
Prêmios: Prêmio da Crítica Mexicana (Festival Internacional de Acapulco, México, 1964), Grande Prêmio (Festival de Cinema Livre, Itália, 1964), Náiade de Ouro (Festival Internacional de Porreta Terme, Itália, 1964), Troféu Saci (Melhor Ator Coadjuvante: Maurício do Valle, 1965), Grande Prêmio Latino-Americano (Festival Internacional de Mar del Plata, Argentina, 1966).

Crítica
O SERTÃO BARROCO DE GLAUBER
João Carlos Sampaio

Mais célebre filme de Glauber Rocha e talvez o título brasileiro mais conhecido no mundo, Deus e o diabo na terra do sol é um extravagante exercício autoral, no qual se misturam influências do cinema realista, do faroeste norte-americano, da literatura de cordel e da dramaturgia do teatro simbolista.
O Sertão Nordestino no Brasil dos anos 1940 é o cenário para a saga do vaqueiro Manuel (Geraldo Del Rey) e sua esposa (Yoná Magalhães). Castigado pela seca inclemente, pela condição de pobreza e exploração da sua força de trabalho, o camponês sangra o latifundiário que o oprime e foge com a mulher.
Nas andanças o casal vai encontrar um líder messiânico (Lídio Silva), que promete prosperidade e boa vida aos que o seguirem. Eles resolvem se tornar discípulos, até que a mulher se rebela com os rituais exóticos e resolve apunhalar o religioso. Novamente, os protagonistas ficam à deriva.
É quando vão encontrar o cangaceiro Corisco (Othon Bastos), cuja vida consiste em saquear para tirar o sustento. Parece uma alternativa razoável para o casal desvalido, até que surge a figura do matador de aluguel (Maurício do Valle), justiceiro decidido a matar o cangaceiro.
Deus e o diabo na terra do sol é um filme repleto de simbologia, que usa os personagens para recriar as forças conflitantes no Nordeste empobrecido. O líder messiânico representa Deus como solução para as injustiças sociais; o cangaceiro é o satanás, ou seja, a solução pela força. O matador de aluguel restitui o equilíbrio, afirmando que nem Deus, nem o seu algoz, são donos da razão.
A terra pertence ao homem é o que diz o filme de Glauber Rocha, que imprime as suas convicções marxistas e revolucionárias com um discurso de grande força visual, amparado pela trilha sonora composta por Sérgio Ricardo, a partir da influência do trovadorismo sertanejo e da poesia popular do cordel.
A virulência que o cineasta usava para defender suas idéias está presente neste filme, que é uma das obras-primas do Cinema Novo e traz todo o vigor do escola político-poética, que mobilizou corações e mentes nos anos 1960.
Barroca desde a sua espinha dorsal, a obra passeia de um extremo a outro, com ousadia e despojamento narrativo. Propõe uma construção que é, ao mesmo tempo, áspera na sua gênese e sofisticada nas suas pretensões discursivas.
Da fome e da miséria, Glauber supõe que virá a revolta. A ira como alimento suficiente para o homem comum, representado pelo vaqueiro Manuel, contestar a sua própria condição. Ele é quem irá se salvar em meio a essa peleja entre Deus e o diabo, metáfora simbólica à crença democrática, de que o povo é quem detém o poder e a força para persistir, superando os desmandos e adversidades.

*João Carlos Sampaio é jornalista e crítico de cinema. Escreve para veículos impressos e atua também como comentarista em programas de rádio e TV.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Próximas sessões e programação de ciclos

A partir de ontem incluímos uma nova sessão permanente no blog, a Próximas sessões, que vocês podem ler ali na coluna da direita. Nossa idéia é poder anunciar a programação do mês seguinte, para que as pessoas possam se planejar também com antecedência. Cabe registrar que no caso de alguns filmes só podemos nos assegurar de sua com poucos dias de antecedência. De qualquer maneira vamos tentar trazer mais esta informação para os associados e leitores.
Para as 2 próximas sessões teremos o encerramento do miniciclo Nordeste do Brasil, que começou na semana passada com O Homem da Mata e Baile Perfumado e continua no dia 27/07 com Deus e o Diabo na Terra do Sol e no dia 03/08 com A Saga da Asa Branca e O Homem que Virou Suco. Em todos estes filmes para além da sua diversidade estética, de linguagem e de temática - encontramos o nordeste brasileiro com sua história, sua organização social, sua geografia, sua gente, seus dramas, tragédias e belezas.

E com a novidade da programação mensal penso que poderíamos explorar ainda mais a idéia de ciclos temáticos. Neste ano, mesmo sem explicitar, sem chamar de ciclo (até porque não tínhamos certeza da disponibilidade dos filmes nas datas previstas) fizemos uma sequência de projeções sobre adolescentes em situação de risco: Os Incompreendidos, Os Esquecidos, Tartarugas Podem Voar. E agora estamos com os filmes sobre o Nordeste.
Gostaria de pedir sugestões de ciclos por temas, diretores, atrizes, atores, nacionalidade. O legal mesmo seria termos vários programadores para nossas sessões: alguém programa setembro, outra pessoa programa outubro, outras duas programam novembro em conjunto e assim vamos fazendo da Amigos do Cinema cada vez mais cineclube.

Já recebemos várias sugestões ao final das sessões e também por email. Um filme recorrente é o Cores do Paraiso. Não esqueci dele, só não consegui ainda localizá-lo. Se alguém souber onde ou com quem, seria de grande ajuda.
Abraços
Caco

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Baile Perfumado e O Homem da Mata nesta segunda na Estação

Caros amigos do cinema,
nesta segunda, dia 20 de julho, teremos dois filmes (um curta e um longa)na nossa tradicional sessão das 20 horas na Estação Férrea:

Baile Perfumado

Lírio Ferreira e Paulo Caldas , PE, 1998, 93 min.
Cinebiografia do libanês Benjamim Abrahão, o único a filmar Lampião e seu bando. O filme mostra desde a morte do Padre Cícero até a morte de Lampião e enfoca o aburguesamento do cangaço e a modernização do Sertão.

O Homem da Mata

Antonio Luiz Carrilho , PE, 2004, 18 min.
José Borba da Silva, ator, canavieiro, cantor, pai-de-santo e artista da cultura popular, interpreta Jack, o vingador justiceiro, super-herói defensor dos trabalhadores da Zona da Mata Atlântica do Nordeste do brasil.



Crítica
Os Inquietos Vão Mudar o Mundo.
Glênio Nicola Povoas.

Baile Perfumado propõe outros olhares sobre o mito de Virgulino Ferreira da Silva. Mas o personagem principal não é o cangaceiro e sim Benjamim Abrahão, conhecido como o mascate que filmou Lampião. Baile Perfumado inicia com a morte do Padre Cícero Romão Baptista, aos 90 anos, em Juazeiro do Norte, Ceará, em 20 de julho de 1934. Na caatinga, enfrentamento entre o bando de Lampião e uma volante liberada pelo tenente Lindalvo Rosas. Em Fortaleza, Abrahão propõe a Adhemar Bezerra de Albuquerque, proprietário da ABA Film (iniciais de seu nome), a confecção de um filme sobre Lampião. Abrahão parte m busca de apoio junto aos coronéis que possam garantir segurança. O encontro acontece num dos esconderijos do bando. O líder aceita ser filmado (em alguns dias de maio de 1936). Abrahão retorna para mais filmagens e fotografias (de outubro de 1936 a início de janeiro de 1937). Fotos de Lampião são publicadas em O Cruzeiro, revista semanal de maior circulação nacional. Os governos não gostam. Em seguida, o filme é proibido (abril de 1937) e Abrahão é assassinado (em 10 de maio de 1938). Lampião, no topo de uma rocha, olha a caatinga.

O libanês Benjamim Abrahão conviveu com os dois maiores mitos do sertão nordestino. Foi secretário particular de Padre Cícero nos seus últimos dez anos de vida. Conheceu Virgulino acompanhado de seu bando, em março de 1926, quando vão a Juazeiro, solicitados pelo governo federal para lutar contra a Coluna Prestes. Na Feliz análise dos próprios realizadores a figura de Abrahão é a metáfora da “modernidade entrando no sertão”.

Houve muita pesquisa e descobertas e nem tudo está no filme. Encontros com o especialista Frederico Pernambucano de Mello, que entre outras preciosidades havia adquirido alguns pertences de Abrahão, como duas cadernetas com anotações em árabe e a câmera usada para as históricas filmagens. As informações sobre o filme de depois de exibição em Fortaleza, por decisão federal, de Lourival Fontes, diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda, negativos e cópias de Lampião, o Rei do Cangaço são apreendidos (abril de 1937) e depositados num porão. O material é descoberto em 1957 por Alexandre Wulfes e Alcebíades Ghiu que recuperam os 15 minutos conhecidos desde então. Essas imagens vem aparecendo ressignificadas em Memória do Cangaço (1965, Paulo Gil Soares) ou A Musa do Cangaço (1982, José Umberto Dias). Dias é responsável por um texto que é básico para Baile Perfumado, “Benjamim Abrahão, o mascote que filmou Lampião” incluindo no livro “Cangaço – O Nordeste no cinema brasileiro”, organizado por Maria do Rosário Caetano (Brasília, Avathar, 2005).

Acompanha esta edição o curta O Homem da Mata. Na fronteira entre o documentário e a ficção, o filme faz um resgate de José Borba, ator, canavieiro, cantor, compositor, pai-de-santo, artista da cultura popular, que interprete Jack, o vingador justiceiro, protetor dos canavieiros. Filmado nas cidades de Aliança e Condado, na Zona da Mata pernambucana. É a segunda direção em cinema de Antônio Luís Carrilho; realizou antes o curta Sociobiologia (2000).



Baile Perfumado
Ficha de Informações do Filme
Título: Baile Perfumado
Duração: 93 min.
Ano: 1998
Cidade: UF(s): PE País: Brasil
Gênero: Ficção
Subgênero: Suspense
Cor: Colorido/PB

Ficha Técnica
Direção: Lírio Ferreira e Paulo Caldas
Roteiro: Paulo Caldas, Lírio Ferreira e Hilton Laverda
Elenco: Duda Mamberti, Luís Carlos Vasconcelos, Aramis Trindade, Chico Diaz, Jofre Soares, Cláudio Mamberti
Empresa(s) Co-produtora(s): Raccord Produções Artísticas
Produção Executiva: Paulo Caldas, Germano Coelho Filho, Lírio Ferreira, Marcelo Pinheiro e Aramis Trindade
Direção Fotografia: Paulo Jacinto dos Reis
Montagem/Edição: Vânia Debs
Direção de Arte: Adão Pinheiro
Técnico de Som Direto: Vírgina Flores, Cesar Migliorin e Fernando Ariani
Descrições das Trilhas: Direção Musical: Chico Science e Fred Zero Quatro, Sergio Siba Veloso, Lucio Maia e Paulo Rafael.

Dados Técnicos
Suporte de Captação: 35mm
Janela de projeção de película: 1:1.33
Disponível nos Suportes: Vídeo (DVD)
Som: Sonoro - Dolby SR
Classificação Indicativa: 14 anos



O Homem da Mata
Ficha de Informações do Filme
Título: O Homem da Mata
Duração: 18 min.
Ano: 2004
Cidade: UF(s): PE País: Brasil
Gênero: Ficção
Subgênero: Suspense
Cor: PB

Ficha Técnica
Direção: Antonio Luiz Carrilho
Roteiro: José Borba da Silva, Antônio Luiz Carrilho de Souza Leão e Guilherme Sarmiento.
Direção de Atores: Manoel Carlos
Elenco: Hermila Guedes, Lourival Batista, Nerisvaldo Alves, Simião Martiniano, Soraia Silva, Jones Melo, Jonathans Ferreira Lucena, José Borba da Silva
Empresa(s) Co-produtora(s): Canoa Filmes
Produção Executiva: Rosa Melo.
Direção de Produção: Renato Pimentel
Direção Fotografia: Mariano Pikman
Operador de Câmera: Mariano Pikman
Montagem/Edição: Karen Barros, Rodrigo Savastano
Direção de Arte: Antônio de Olinda, Cristiano Sidoti, Daniela Brilhante e Lourival Batista.
Técnico de Som Direto: Osman Assis, Bárbara de Lito
Sound Designer: Luiz Eduardo Carmo
Descrições das Trilhas: Armando Lobo

Dados Técnicos
Suporte de Captação: 16mm
Janela de projeção de película: 1:1.33
Disponível nos Suportes: Vídeo (DVD)
Som: Sonoro - Dolby SR

Classificação Indicativa: Não possui a Classificação Indicativa do Ministério da Justiça

Currículo do filme
Prêmios:
-Melhor Filme; Melhor Ator e Melhor Montagem em 16mm no Festival de Brasília, 37, 2004, Brasília - DF..
-Prêmio Especial do Júri no Curta Cinema, 2004, RJ..
-Prêmio Expressão Cultural no Festival Brasileiro do Cinema Universitário, 10, 2005, RJ.

Enquete sobre o dia da sessão

Os amigos e amigas que olharem ali na coluna da direita, um pouco abaixo, encontrarão os resultados de nossa enquete sobre o melhor dia para a sessão e poderão verificar que a terça-feira aparece com larga vantagem como o dia preferido.
Para este ano não é possível trocar, devido à escala de ocupação do Centro de Cultura da Estação Férrea. Vamos registrar a sugestão dos associados e tentar esta modificação para 2010.
Até lá continuaremos com a sessão dos Amigos do Cinema nas segundas, às 20 horas, na Estação.

Fórum da Cultura

Conforme o Antelmo nos lembrou na postagem anterior, dia 15 tivemos importante reunião do Fórum da Cultura. No dia 12 de agosto teremos a próxima, quando o fórum irá definir sua proposta de composição do Conselho Municipal de Cultura. Mais informações podem ser encontradas no blog do Fórum da Cultura http://culturascs.blogspot.com

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Caros amigos e amigas,
No dia 15 de julho, quarta-feira, teremos uma importante reunião mensal do Fórum da Cultura, das 18h às 20 horas na Estação Férrea.

Vamos retomar a discussão sobre o Conselho Municipal de Cultura com o objetivo de definir critérios ou diretrizes sobre a participação da sociedade organizada no conselho: quais as entidades, a que setores da cultura elas representam, como serão escolhidas. Além da representação das diversas manifestações culturais é estritamente necessaária a participação da sociedade representando os apreciadores de cultura da nossa cidade.

domingo, 12 de julho de 2009

Tudo Bem, nesta segunda às 20 horas na Estação Férrea

Caros amigos do cinema, nesta segunda-feira nossa sessão terá o filme Tudo Bem, de Arnaldo Jabor. É um filme de 1978 que faz um interessantísimo retrato do Brasil dos anos 70 do século passado e é um dos grandes filmes que o Jabor fez quando ainda não era comentarista da Rede Globo. O filme foi muito premiado na época: Melhor Filme no Festival de Brasília de 1978. Melhor Ator Coadjuvante para Paulo Cesar Pereio no mesmo festival. Prêmios Moliére de Cinema de 1978: melhor filme, melhor direção, melhor atriz (Fernanda Montenegro). E ainda, no Festival de Taormina, na Itália, o de melhor atriz para Fernanda Montenegro.
Além do Pereio e da Fernanda Montenegro, estão no elenco profissionais do porte de Paulo Gracindo, Stênio Garcia, José Dumont, Anselmo Vasconcellos,Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães e Fernando Torres.
Quero destacar ainda que o autor da crítica que está logo abaixo da ficha técnica do filme, é o santacruzense Marcus Mello, crítico, editor de revistas de cinema e programador da Sala P. F. Gastal, cinema manticdo pela secretaria municipal de cultura de Porto Alegre.


Tudo Bem

Sinopse:
Uma família de classe média do Rio de Janeiro decide reformar o apartamento para o noivado da filha, que só pensa em se casar. O pai é funcionário público aposentado e perdeu o interesse pela mãe, que sofre com a rejeição. O filho é um executivo oportunista. Duas empregadas domésticas completam o quadro de moradores, que têm seu cotidiano totalmente alterado com a chegada dos trabalhadores. Em meio às obras, todos os habitantes desse microcosmo de conflitos sociais vão revelando suas particularidades.


Ficha de Informações
Título: Tudo Bem
Duração: 110 min e 0 seg.
Ano: 1978
País: Brasil
Gênero: Ficção
Subgênero: Suspense
Cor: Colorido

Ficha Técnica
Direção: Arnaldo Jabor
Roteiro: Arnaldo Jabor e Leopoldo Serran
Elenco: Fernanda Montenegro, Paulo Gracindo, Maria Silvia, Zezé Motta, Stênio Garcia, José Dumont, Anselmo Vasconcellos,Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães,Fernando Torres, Luis Linhares, Jorge Loredo,Álvaro Freire, José Maranhão Torres, Alby Ramos, Jesus Pin
Empresa(s) Co-produtora(s): Sagitário Produções Cinematográficas Ltda.,Embrafilme - Empresa Brasileira de Filmes S.A.
Produção Executiva: Arnaldo Jabor
Direção de Produção: Carlos Alberto Diniz
Direção Fotografia: Dib Lutfi
Montagem/Edição: Gilberto Santeiro
Cenografia: Hélio Eichbauer
Figurino: Hélio Eichbauer
Técnico de Som Direto: Vitor Raposeiro
Mixagem: Aloysio Vianna

Dados Técnicos
Suporte de Captação: 35mm
Disponível nos Suportes: Vídeo (DVD)
Som: Sonoro
Mono


Classificação Indicativa: 16 anos

Currículo do filme
Prêmios: Melhor Filme e Melhor Ator Coadjuvante para Pereio, Paulo Cesar no Festival de Brasília, 11, 1978, Brasília - DF..
Prêmios Moliére de Cinema, 1978, de Melhor Filme; de Melhor Direção e de Melhor Atriz para Montenegro, Fernanda..
Melhor Atriz para Montenegro, Fernanda no Festival de Taormina - IT.

Crítica

O PAÍS NA SALA DE JANTAR
Marcus Mello

Expoente da segunda fase do Cinema Novo, Arnaldo Jabor iniciou sua carreira como documentarista com o excelente Opinião pública (1967), mas é na ficção que este diretor carioca nascido em 1940 vai encontrar sua verdadeira vocação. Entre o início dos anos 1970 e a primeira metade dos anos 1980, Jabor produziu uma série de filmes marcantes, combinando um forte traço autoral com uma ampla capacidade de comunicação com as platéias. Se o alegórico Pindorama (1973), sua estréia na ficção, desagradou tanto à crítica quanto ao público, a recuperação viria com Toda a nudez será castigada (1973) e O casamento (1978), vigorosas adaptações cinematográficas de Nelson Rodrigues, que asseguraram uma consagração imediata ao então jovem diretor (admiração compartilhada pelo próprio Nelson Rodrigues).

Tudo bem (1978) dá início a um tríptico de filmes, conhecido como a "Trilogia do apartamento", que teria continuidade com Eu te amo (1980) e Eu sei que vou te amar (1984). Trata-se de um projeto ambicioso, e muito bem-sucedido, visto por inúmeros críticos como a obra-prima de Jabor. A trama acompanha os percalços de uma família de classe média envolvida na reforma de seu apartamento em Copacabana. O pai, o funcionário público aposentado Juarez Barata (Paulo Gracindo), a esposa insatisfeita sexualmente (Fernanda Montenegro), a filha que só pensa em casar (Regina Casé), o filho meio cafajeste (Luiz Fernando Guimarães) e as duas empregadas domésticas da casa (Maria Sílvia e Zezé Motta) têm seu cotidiano alterado pela convivência com o grupo de operários contratados para a obra.

A partir dessa situação até certo ponto banal, Jabor desenha um retrato desconcertante do Brasil, desnudando nossas idiossincrasias e contradições mais profundas. O aspecto alegórico está presente o tempo inteiro, mas sem prejuízo da comunicabilidade, alcançada pela mistura de situações cômicas e absurdas apresentadas pelo roteiro, assinado por Leopoldo Serran em parceria com Jabor, que dialoga diretamente com o universo de Nelson Rodrigues.

A exemplo de alas de uma escola de samba que elegesse como tema as misérias nacionais - a alienação da classe média, o sincretismo religioso, o apartheid social, a invasão do capital estrangeiro, a ressaca do Milagre Econômico, o gosto pela corrupção -, os dramas do País vão desfilando entre as quatro paredes do apartamento da família Barata, num esforço totalizante que procura oferecer ao espectador, através do cinema, uma interpretação do Brasil.
Verborrágico e excessivo, Tudo bem pode ser visto como uma ópera barroca sobre um país de alma doente. O risco de resvalar para a teatralidade, facilitado pela situação de confinamento dos personagens, no entanto, é evitado pela encenação sofisticada de Jabor, que conta ainda a seu favor com o auxílio de um elenco notável de atores, provavelmente o melhor já reunido numa produção brasileira.

*Marcus Mello: Crítico de cinema, é editor da revista Teorema (RS) e colaborador das revistas Aplauso (RS) e Cinética (RJ). Programador da Sala P. F. Gastal, cinema mantido pela Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Sessão 06 de julho


A sessão dos Amigos do Cinema desta segunda dia 06 de julho apresentaremos o filme Tartarugas Podem Voar, uma produção iraniana/iraquiana. A sessão será às 20 horas na Estação Férrea. como sempre, a sessão é gratiuta e aberta ao público em geral.

Sinopse
Em uma vila de curdos no Iraque, na fronteira entre o Irã e a Turquia e pouco antes do ataque americano contra o país, os moradores locais buscam desesperadamente uma antena parabólica, na intenção de ter notícias via satélite.


Ficha Técnica
Título Original: Lakposhtha Hâm Parvaz Mikonand
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 95 minutos
Ano de Lançamento (Irã / Iraque): 2004
Estúdio: Mij Film Co. / Bac Films
Distribuição: Bac Films / Imovision
Direção: Bahman Ghobadi
Roteiro: Bahman Ghobadi
Produção: Babak Amini, Hamid Karim Batin Ghobadi, Hamid Ghavami e Bahman Ghobadi
Música: Hossein Alizadeh
Fotografia: Shahram Assadi
Desenho de Produção: Bahman Ghobadi
Edição: Mustafa Kherqepush e Haydeh Safi-Yari


Elenco
Soran Ebrahim (Satellite)
Avaz Latif (Agrin)
Saddam Hossein Feysal (Pashow)
Hiresh Feysal Rahman (Hengov)
Abdol Rahman Karim (Riga)
Ajil Zibari (Shirkooh)


TARTARUGAS PODEM VOAR
Bahman Ghobadi, Lakposhta hâm parvaz mikonand, Irã, 2004

A cidade inteira gira em torno de Satélite. Satélite é um menino de óculos que lhe tomam metade do rosto. Ele traz e instala antenas nos vilarejos entre a fronteira do Irã com o Iraque, tanto as convencionais quanto as parabólicas. Negociante precoce, ele arruma sustento para os órfãos curdos fazendo-os recolher minas americanas que ele posteriormente vende a um comerciante local. Além disso, Satélite também é o intérprete dos acontecimentos que estão prestes a ter lugar naquela localidade: estamos nas vésperas da invasão americana ao Iraque, e os anciãos do vilarejo instalam uma parabólica para tentar se antecipar à declaração de guerra e preparar-se para o pior. Satélite (pronúncia americana, "sateláit"), com suas duas ou três palavras em inglês, é a única pessoa que parece possivelmente capaz de desvendar a fala dos canais americanos que desencadeará a guerra. Tartarugas Podem Voar é um nome poético para designar dois percursos: o primeiro é o do menino self-made-man que venera tudo que é made in USA mas que perde tudo que tem por causa de coisas made in USA; o segundo é o percurso de uma mina que explode - um objeto semelhante a uma tartaruga encolhida que, ao contrário do animal, se abre quando alguém encosta nela, e voa, tirando pedaço daqueles que estão por perto.

Bahman Ghobadi, em seu terceiro longa, não abandona seu sadismo característico de estabelecer tensões emocionais a partir de aleijados e animais em situações delicadas e daí tentar extrair sentimentos "humanos" ou evocações humanitárias. Mas dessa vez o coquetel vem recheado de uma densidade inesperada, menos estética do que política. Antes dos Estados Unidos invadirem fisicamente as terras, pela presença das tropas, eles já invadiram todo o resto: o solo através das minas americanas, a língua através das saudações e das outras palavras que Satélite troca com seus parceiros de negócios, o imaginário a partir dos canais de televisão (tanto os canais permitidos quanto os "proibidos", os de música, de comportamento e de sexo), e até a prole, uma vez que o filho da menina Agrin foi concebido através de um estupro por soldado americano. Vendo nela uma pessoa tão solitária quanto ele, Satélite se apaixona por Agrin e completa enfim seus códigos e sua dependência em relação aos EUA: tudo que diz respeito a Satélite foi ou será tocado pela presença americana, da qual ele será – sem trocadilho – um satélite, e um satélite que servirá de astro maior a toda a comunidade, esta também tornada satélite do menino.

Tartarugas Podem Voar comove em alguma medida porque jamais nos impõe essa centralização. Vemos aos poucos que todo o entorno de Satélite vai sendo destruído pela mão imaterial americana, mas isso nunca é telegrafado diretamente para nós. É pela acumulação discreta de signos que podemos "ver" o que acontece. E "ver" tem um significado bastante específico no filme. "Ver" não é da natureza laica da visibilidade ocidental, mas do destino e do desígnio: Satélite precisa interpretar como um oráculo as imagens (que ele não entende) da televisão, mas, sabendo que ele não é nem oráculo e muito menos um verdadeiro intérprete, ele espera que um outro faça por ele a profecia (dessa vez uma verdadeira profecia) e ele possa, como falso oráculo, declarar a iminência da guerra. Seguem planos de helicópteros americanos chegando e distribuindo folhetos em que dizem que são a salvação do mundo, enquanto ao longo do filme vemos que os estilhaços deixados pela presença americana são de forma global a própria razão da penúria daquela gente. Poderosa arte de apenas mostrar, esperando que a síntese se faça somente na cabeça do espectador (assim como a relação tartaruga=mina), dando a ele a liberdade de entrar na história e ruminar por si próprio a complexidade de visões e interesses do qual o filme é questão. Satélite é um ditador? É um santo? É o porta-voz da desgraça ou a última chance de esperança? Mártir ou vilão? Bahman Ghobadi parece muito mais interessado na ambigüidade – que, no mais, é a dele próprio, de diretor com preocupações políticas mas também cheio de crueldade em filmar o que filma – do que na defesa cega de uma figura fácil demais de se identificar. Através de Satélite, repousa toda a problemática do cinema de Bahman Ghobadi e, especificamente, de Tartarugas Podem Voar, filme comovente em sua sinceridade formal e em sua falta de jeito estilística.

Ruy Gardnier