quarta-feira, 29 de julho de 2009

O Homem que Virou Suco. Nesta segunda (03/08) às 20h na Estação

Caros amigos, nesta segunda teremos um programa duplo, com um curta e um longa.
Histórias populares do Nordeste estão neste programa composto de dois filmes realizados na mesma época. São as histórias transmitidas oralmente que eventualmente se transformam em literatura de cordel e em canções. A animação pernambucana A saga da Asa Branca ilustra, em estilo de cordel, a célebre toada Asa Branca, de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, gravada pelo rei do baião pela primeira vez em 1947. Também em estilo de cordel, O homem que virou suco é um dos filmes mais contundentes e fascinantes sobre o tema da migração nordestina para São Paulo. Nele, o ator José Dumont desempenha duplo papel, de dois migrantes em que um assassino e um cantador são confundidos. Diversão e reflexão.



* A Saga da Asa Branca
Lula Gonzaga , RJ, 1979
* O Homem que Virou suco
João Batista de Andrade , SP, 1979


Seguem abaixo as sinopses, fichas técnicas e crítica dos filmes.

O Homem que Virou Suco
Sinopse
A história segue Deraldo, um poeta popular nordestino recém chegado a São Paulo, onde tenta sobreviver de sua poesia e folhetos. Confundido com o operário de uma multinacional que mata o patrão, é perseguido pela polícia e perde sua identidade e condição de cidadão. Através de Deraldo, o filme acompanha o caminho do trabalhador migrante numa cidade grande: a construção civil, os serviços domésticos e subempregos sujeitos à violência e à humilhação. E segue a luta de Deraldo para reconquistar sua liberdade e preservar sua identidade.

Ficha de Informações do Filme
Título: O Homem que Virou suco
Duração: 97 min e 0 seg.
Ano: 1979
País: Brasil
Gênero: Ficção
Subgênero: Suspense
Cor: Colorido

Direção: João Batista de Andrade
Roteiro: João Batista de Andrade
Elenco: José Dumont, Célia Maracajá, Ruth Escobar, Denoy de Oliveira, Renato Máster, Ruthnéia de Moraes, Barros Freire, Rafael de Carvalho.
Empresa Co-produtora: RAIZ PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS
Produção Executiva: Assunção Hernandes
Direção de Produção: Wagner Carvalho
Direção Fotografia: Aloysio Raulino
Montagem/Edição: Alain Fresnot
Cenografia: Marisa Rebolo
Figurino: Marisa Rebolo
Técnico de Som Direto: Romeu Quinto
Mixagem: Walter Rogério
Trilha Musical: Vital Farias
Suporte de Captação: 35mm
Som: Sonoro Mono

Classificação Indicativa: 16 anos

Currículo do filme
Prêmios: Medalha de Ouro (Melhor Filme) no Festival Internacional de Moscou (1981); Prêmio Mérito Humanitário da Juventude Soviética de Moscou (1981); Prêmio Especial da Crítica no Festival de Memórias Operárias de Névers, França (1983); Melhor ator no Festival de Brasília para José Dumont (1980) Melhor roteiro, ator principal e ator coadjuvante no IX Festival de Cinema Brasileiro de Gramado (1981); Melhor Ator Festival de Huelva (1983), Prêmio Air France de Cinema (1980); Prêmio Qualidade Brasil Concine (1983); Prêmio São Saruê, concedido pela Federação dos Cineclubes do Rio de Janeiro (1983).

A Saga da Asa Branca
Sinopse
Asa Branca é um pássaro de arribação que voa do sertão quando percebe que a seca vai chegar. O filme é um "semidocumentário" em desenho animado, que retrata o pássaro e o sertanejo com sua mulher (Bernardino e Rosinha), partindo da sua terra com a chegada da estiagem. Com texto e narração de Humberto Teixeira, compositor da música Asa Branca, foi este o único trabalho de Humberto no cinema e também seu último trabalho. Na trilha sonora, o arranjo sinfônico do maestro Guerra Peixe.

Ficha de Informações do Filme
Título: A Saga da Asa Branca
Duração: 7 min
Ano: 1979
País: Brasil
Gênero: Animação
Subgênero: Suspense
Cor: Colorido

Direção: Lula Gonzaga
Roteiro: Silvana Delácio
Elenco: Vozes: Humberto Teixeira
Empresa Co-produtora: A SAGA AUDIOVISUAL
Produção Executiva: Lula Gonzaga
Direção de Produção: Lula Gonzaga
Direção Fotografia: Ronaldo Cânfora - Pan Studio
Direção de Arte: Lula Gonzaga
Trilhas musical: Asa Branca de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, com arranjo sinfônico de Guerra Peixe
Som: Sonoro Mono

Classificação Indicativa: Livre


Crítica
CLÁSSICO E POPULAR
Carlos Alberto Mattos

O Homem que virou suco é exemplo típico - e um dos melhores - de um conjunto de operações que o cinema brasileiro fazia na segunda metade da década de 1970 para estabelecer um diálogo melhor com o público, sem trair as conquistas estéticas do Cinema Novo e do Cinema Marginal.

Para começar, o filme reelabora padrões da narrativa clássica com ingredientes de um cinema popular. Basicamente, é a história do duplo (expressionismo alemão) e do homem errado (policial estadunidense) que se desenrola entre Severino e Deraldo, os dois sósias nordestinos envolvidos num equívoco criminal. O tema igualmente clássico do imigrante é tratado desde o título, e em toda sua extensão, como material de literatura de cordel. Assim o diretor procura fundir seu filme com formas de representação características do povo nordestino.
Naquele período, o cinema brasileiro também experimentava uma crescente simbiose entre práticas do documentário e da ficção, num movimento iniciado por Iracema - Uma transa amazônica, em 1974, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna. Daí a importância da improvisação nos diálogos, de uma relação especialmente livre entre câmera e atores e até de uma certa submissão da técnica às condições do local de filmagem.
Por fim, vemos um diretor que não abre mão de seu passado. É nas seqüências de rua que João Batista de Andrade semeia os ecos de sua militância no cinema marginal paulista anos antes, quando era comum promover-se performances em praça pública para que o filme absorvesse o inesperado da participação popular.
Esta denúncia do esmagamento dos deraldos e severinos, seja pela marginalização, seja pela inserção aviltante, conta com a sensibilidade do diretor para criar uma poética em meio ao drama e à comédia. As cenas da batida policial noturna e da leitura da carta no alojamento dos operários são reveladoras de um olhar humanista que transcende toda urgência e objetividade.
A presença de José Dumont, no filme que o revelou plenamente, extrapola a mera questão cênica. No fundo, é o próprio ator que está na pele de Deraldo, ele que também chegou da Paraíba sem documentos e soube se impor pelas artes do talento. Coisa semelhante se passou com o próprio filme, lançado em 1980 sem maior repercussão e "redescoberto" pelos brasileiros depois de vencer o Festival de Moscou. O suco, portanto, só veio depois da vodka.
O curta que complementa este programa reverbera o tema da imigração a partir de outro ícone da cultura nordestina: a canção Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Uma animação naïf, mas expressiva, reitera o drama da fuga para um sonho impossível.

* Crítico e pesquisador de cinema, autor de livros sobre Walter Lima Jr., Eduardo Coutinho, Carla Camurati, Jorge Bodanzky e Maurice Capovilla. Crítico de O Globo, do site criticos.com.br e autor do DocBlog / Globo Online.

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