domingo, 12 de julho de 2009

Tudo Bem, nesta segunda às 20 horas na Estação Férrea

Caros amigos do cinema, nesta segunda-feira nossa sessão terá o filme Tudo Bem, de Arnaldo Jabor. É um filme de 1978 que faz um interessantísimo retrato do Brasil dos anos 70 do século passado e é um dos grandes filmes que o Jabor fez quando ainda não era comentarista da Rede Globo. O filme foi muito premiado na época: Melhor Filme no Festival de Brasília de 1978. Melhor Ator Coadjuvante para Paulo Cesar Pereio no mesmo festival. Prêmios Moliére de Cinema de 1978: melhor filme, melhor direção, melhor atriz (Fernanda Montenegro). E ainda, no Festival de Taormina, na Itália, o de melhor atriz para Fernanda Montenegro.
Além do Pereio e da Fernanda Montenegro, estão no elenco profissionais do porte de Paulo Gracindo, Stênio Garcia, José Dumont, Anselmo Vasconcellos,Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães e Fernando Torres.
Quero destacar ainda que o autor da crítica que está logo abaixo da ficha técnica do filme, é o santacruzense Marcus Mello, crítico, editor de revistas de cinema e programador da Sala P. F. Gastal, cinema manticdo pela secretaria municipal de cultura de Porto Alegre.


Tudo Bem

Sinopse:
Uma família de classe média do Rio de Janeiro decide reformar o apartamento para o noivado da filha, que só pensa em se casar. O pai é funcionário público aposentado e perdeu o interesse pela mãe, que sofre com a rejeição. O filho é um executivo oportunista. Duas empregadas domésticas completam o quadro de moradores, que têm seu cotidiano totalmente alterado com a chegada dos trabalhadores. Em meio às obras, todos os habitantes desse microcosmo de conflitos sociais vão revelando suas particularidades.


Ficha de Informações
Título: Tudo Bem
Duração: 110 min e 0 seg.
Ano: 1978
País: Brasil
Gênero: Ficção
Subgênero: Suspense
Cor: Colorido

Ficha Técnica
Direção: Arnaldo Jabor
Roteiro: Arnaldo Jabor e Leopoldo Serran
Elenco: Fernanda Montenegro, Paulo Gracindo, Maria Silvia, Zezé Motta, Stênio Garcia, José Dumont, Anselmo Vasconcellos,Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães,Fernando Torres, Luis Linhares, Jorge Loredo,Álvaro Freire, José Maranhão Torres, Alby Ramos, Jesus Pin
Empresa(s) Co-produtora(s): Sagitário Produções Cinematográficas Ltda.,Embrafilme - Empresa Brasileira de Filmes S.A.
Produção Executiva: Arnaldo Jabor
Direção de Produção: Carlos Alberto Diniz
Direção Fotografia: Dib Lutfi
Montagem/Edição: Gilberto Santeiro
Cenografia: Hélio Eichbauer
Figurino: Hélio Eichbauer
Técnico de Som Direto: Vitor Raposeiro
Mixagem: Aloysio Vianna

Dados Técnicos
Suporte de Captação: 35mm
Disponível nos Suportes: Vídeo (DVD)
Som: Sonoro
Mono


Classificação Indicativa: 16 anos

Currículo do filme
Prêmios: Melhor Filme e Melhor Ator Coadjuvante para Pereio, Paulo Cesar no Festival de Brasília, 11, 1978, Brasília - DF..
Prêmios Moliére de Cinema, 1978, de Melhor Filme; de Melhor Direção e de Melhor Atriz para Montenegro, Fernanda..
Melhor Atriz para Montenegro, Fernanda no Festival de Taormina - IT.

Crítica

O PAÍS NA SALA DE JANTAR
Marcus Mello

Expoente da segunda fase do Cinema Novo, Arnaldo Jabor iniciou sua carreira como documentarista com o excelente Opinião pública (1967), mas é na ficção que este diretor carioca nascido em 1940 vai encontrar sua verdadeira vocação. Entre o início dos anos 1970 e a primeira metade dos anos 1980, Jabor produziu uma série de filmes marcantes, combinando um forte traço autoral com uma ampla capacidade de comunicação com as platéias. Se o alegórico Pindorama (1973), sua estréia na ficção, desagradou tanto à crítica quanto ao público, a recuperação viria com Toda a nudez será castigada (1973) e O casamento (1978), vigorosas adaptações cinematográficas de Nelson Rodrigues, que asseguraram uma consagração imediata ao então jovem diretor (admiração compartilhada pelo próprio Nelson Rodrigues).

Tudo bem (1978) dá início a um tríptico de filmes, conhecido como a "Trilogia do apartamento", que teria continuidade com Eu te amo (1980) e Eu sei que vou te amar (1984). Trata-se de um projeto ambicioso, e muito bem-sucedido, visto por inúmeros críticos como a obra-prima de Jabor. A trama acompanha os percalços de uma família de classe média envolvida na reforma de seu apartamento em Copacabana. O pai, o funcionário público aposentado Juarez Barata (Paulo Gracindo), a esposa insatisfeita sexualmente (Fernanda Montenegro), a filha que só pensa em casar (Regina Casé), o filho meio cafajeste (Luiz Fernando Guimarães) e as duas empregadas domésticas da casa (Maria Sílvia e Zezé Motta) têm seu cotidiano alterado pela convivência com o grupo de operários contratados para a obra.

A partir dessa situação até certo ponto banal, Jabor desenha um retrato desconcertante do Brasil, desnudando nossas idiossincrasias e contradições mais profundas. O aspecto alegórico está presente o tempo inteiro, mas sem prejuízo da comunicabilidade, alcançada pela mistura de situações cômicas e absurdas apresentadas pelo roteiro, assinado por Leopoldo Serran em parceria com Jabor, que dialoga diretamente com o universo de Nelson Rodrigues.

A exemplo de alas de uma escola de samba que elegesse como tema as misérias nacionais - a alienação da classe média, o sincretismo religioso, o apartheid social, a invasão do capital estrangeiro, a ressaca do Milagre Econômico, o gosto pela corrupção -, os dramas do País vão desfilando entre as quatro paredes do apartamento da família Barata, num esforço totalizante que procura oferecer ao espectador, através do cinema, uma interpretação do Brasil.
Verborrágico e excessivo, Tudo bem pode ser visto como uma ópera barroca sobre um país de alma doente. O risco de resvalar para a teatralidade, facilitado pela situação de confinamento dos personagens, no entanto, é evitado pela encenação sofisticada de Jabor, que conta ainda a seu favor com o auxílio de um elenco notável de atores, provavelmente o melhor já reunido numa produção brasileira.

*Marcus Mello: Crítico de cinema, é editor da revista Teorema (RS) e colaborador das revistas Aplauso (RS) e Cinética (RJ). Programador da Sala P. F. Gastal, cinema mantido pela Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre.

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