sábado, 25 de julho de 2009

Deus e o diabo na terra do sol. Nesta segunda, às 20h, na Estação

Prezados Amigos do Cinema, nesta segunda, na nossa sessão das 20 horas na Estação Férrea, teremos um clássico do cinema brasileiro e mundial, Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha.

Sinopse
Revoltado contra a exploração de que é vítima por parte do coronel Morais, o vaqueiro Manuel mata-o durante uma briga. Começa então a fuga de Manuel e de sua esposa Rosa, que são perseguidos por jagunços até se integrarem aos seguidores do beato Sebastião, no lugar sagrado de Monte Santo. Ao mesmo tempo, o matador de aluguel Antônio das Mortes, a serviço dos latifundiários e da Igreja Católica, extermina os seguidores do beato, o que faz com que o casal tenha de continuar fugindo e se encontre com Corisco, cangaceiro remanescente do bando de Lampião.

Ficha de Informações do Filme
Título: Deus e o Diabo na Terra do Sol
Duração: 110 min e 0 seg.
Ano: 1964
Cidade: UF(s): BA País: Brasil
Gênero: Ficção
Subgênero: Suspense
Cor: PB
Ficha Técnica
Direção: Glauber Rocha
Roteiro: Glauber Rocha e Walter Lima Jr.
Assistente de Direção: Paulo Gil Soares, Walter Lima Jr.
Elenco: Geraldo Del Rey, Yoná Magalhães, Maurício do Valle, Othon Bastos, Sebastião; Sônia dos Humildes - Dadá;
Empresa(s) Co-produtora(s): Copacabana Filmes
Produção Executiva: Luiz Augusto Mendes
Direção de Produção: Agnaldo Azevedo
Direção Fotografia: Waldemar Lima
Montagem/Edição: Rafael Justo Valverde e Glauber Rocha
Direção de Arte: Paulo Gil Soares
Figurino: Paulo Gil Soares
Técnico de Som Direto: Aluísio Viana, Geraldo José e Rafael Valverde
Edição Som: Rafael Valverde
Mixagem: Rafael Valverde
Trilha: Sérgio Ricardo, Glauber Rocha e Heitor Villa-Lobos.
Dados Técnicos
Som: Sonoro Mono
Classificação Indicativa: 14 anos
Currículo do filme
Prêmios: Prêmio da Crítica Mexicana (Festival Internacional de Acapulco, México, 1964), Grande Prêmio (Festival de Cinema Livre, Itália, 1964), Náiade de Ouro (Festival Internacional de Porreta Terme, Itália, 1964), Troféu Saci (Melhor Ator Coadjuvante: Maurício do Valle, 1965), Grande Prêmio Latino-Americano (Festival Internacional de Mar del Plata, Argentina, 1966).

Crítica
O SERTÃO BARROCO DE GLAUBER
João Carlos Sampaio

Mais célebre filme de Glauber Rocha e talvez o título brasileiro mais conhecido no mundo, Deus e o diabo na terra do sol é um extravagante exercício autoral, no qual se misturam influências do cinema realista, do faroeste norte-americano, da literatura de cordel e da dramaturgia do teatro simbolista.
O Sertão Nordestino no Brasil dos anos 1940 é o cenário para a saga do vaqueiro Manuel (Geraldo Del Rey) e sua esposa (Yoná Magalhães). Castigado pela seca inclemente, pela condição de pobreza e exploração da sua força de trabalho, o camponês sangra o latifundiário que o oprime e foge com a mulher.
Nas andanças o casal vai encontrar um líder messiânico (Lídio Silva), que promete prosperidade e boa vida aos que o seguirem. Eles resolvem se tornar discípulos, até que a mulher se rebela com os rituais exóticos e resolve apunhalar o religioso. Novamente, os protagonistas ficam à deriva.
É quando vão encontrar o cangaceiro Corisco (Othon Bastos), cuja vida consiste em saquear para tirar o sustento. Parece uma alternativa razoável para o casal desvalido, até que surge a figura do matador de aluguel (Maurício do Valle), justiceiro decidido a matar o cangaceiro.
Deus e o diabo na terra do sol é um filme repleto de simbologia, que usa os personagens para recriar as forças conflitantes no Nordeste empobrecido. O líder messiânico representa Deus como solução para as injustiças sociais; o cangaceiro é o satanás, ou seja, a solução pela força. O matador de aluguel restitui o equilíbrio, afirmando que nem Deus, nem o seu algoz, são donos da razão.
A terra pertence ao homem é o que diz o filme de Glauber Rocha, que imprime as suas convicções marxistas e revolucionárias com um discurso de grande força visual, amparado pela trilha sonora composta por Sérgio Ricardo, a partir da influência do trovadorismo sertanejo e da poesia popular do cordel.
A virulência que o cineasta usava para defender suas idéias está presente neste filme, que é uma das obras-primas do Cinema Novo e traz todo o vigor do escola político-poética, que mobilizou corações e mentes nos anos 1960.
Barroca desde a sua espinha dorsal, a obra passeia de um extremo a outro, com ousadia e despojamento narrativo. Propõe uma construção que é, ao mesmo tempo, áspera na sua gênese e sofisticada nas suas pretensões discursivas.
Da fome e da miséria, Glauber supõe que virá a revolta. A ira como alimento suficiente para o homem comum, representado pelo vaqueiro Manuel, contestar a sua própria condição. Ele é quem irá se salvar em meio a essa peleja entre Deus e o diabo, metáfora simbólica à crença democrática, de que o povo é quem detém o poder e a força para persistir, superando os desmandos e adversidades.

*João Carlos Sampaio é jornalista e crítico de cinema. Escreve para veículos impressos e atua também como comentarista em programas de rádio e TV.

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