domingo, 1 de julho de 2012

“ OS DEUSES MALDITOS” DIA 02/07/12 20HS CENTRO DE CULTURA


SINOPSE
Um dos grandes filmes de Luchino Visconti, Os Deuses Malditos (Götterdämmerung, 1969) finalmente é lançado em DVD. Aborda a decadência dos Von Essenbeck, uma família poderosa do ramo siderúrgico, no momento em que Adolf Hitler assume o poder. A partir do assassinato do patriarca da família, o barão Joachim von Essenbeck, Visconti esculpe uma narrativa densa, marcada pelo rigor classico que lhe é peculiar, e investiga a origem do mal na Alemanha do período imediatamente anterior à Segunda Guerra Mundial. Com sequências antológicas, como a de Helmut Berger imitando Marlene Dietrich, em O Anjo Azul, ou a reconstituição do incêndio do Reichstag, em Berlim, em 1933, e da Noite dos Longos Punhais, em 1934, momentos graves, importantes para a consolidação do nazismo, o filme integra a trilogia alemã de Visconti, ao lado de Morte em Veneza (1971) e Ludwig (1972).
FICHA TÉCNICA Ficha Técnica
Título original: (Götterdämmerung, 1969)
Direção: Luchino Visconti
Roteiro: Nicola Badalucco, Enrico Medioli e Luchino Visconti
Fotografia: Pasqualino Di Santis e Armando Nanuzzi
Música: Maurice Jarre
Edição: Ruggero Mastroianni
Elenco: Dirk Bogarde, Ingrid Thulin, Helmut Berger, Helmut Griem,Umberto Orsini, Florinda Bolkan
Duração: 157 min
Classificação: 14 anos
Onde encontrar:
 Vintage Videos
 
CRÍTICA (Luiz Carlos Merten, O Estado de São Paulo)


Luchino Visconti havia iniciado a década de 1960 com uma obra-prima, Rocco e Seus Irmãos, à qual se seguiram O Trabalho, episódio de Boccaccio 70, O Leopardo eVagas Estrelas da Ursa. Mas em 1967/68, ele estava amargurado. Toda a vida Visconti quis adaptar O Estrangeiro, de Albert Camus, mas a viúva do escritor não lhe permitiu atualizar o livro, como queria, e a obra acabada ficou aquém de sua expectativa. Foi nesse quadro que, atento aos movimentos sociais da época - a reação ao Maio de 68, o ressurgimento do (neo)fascismo como força eleitoral na Itália -, ele começou a gestar sua trilogia alemã.

Ela começou com
 Os Deuses Malditos, que agora sai em DVD, prosseguiu com Morte em Veneza e concluiu-se com Ludwig, a Paixão de Um Rei. Os filmes foram surgindo um a cada dois anos - 1969, 1971, 1973. Durante a realização do terceiro, o cineasta sofreu a trombose que o deixou parcialmente paralisado e foi assim, em condições físicas precárias, que prosseguiu sua obra até o fim. Aos que o cobravam o por quê da trilogia alemã, Visconti dizia que o romantismo tedesco havia sido decisivo na sua formação intelectual. E mais - ele estava na Alemanha justamente no começo dos anos 1930, quando os nazistas consolidaram seu poder.

Testemunhara a forma como Adolf Hitler se cercara dos integrantes do que virou umas tropa de choque, os SA, cujo comandante supremo era um homossexual violento (e totalmente devotado ao führer). Já encastelado no poder, Hitler quis se dissociar dos SA e ordenou seu massacre pelo que viria a ser a elite do Reich, os SS. A cena é reconstituída em
 Os Deuses Malditos. Rende um dos momentos mais fortes do filme.
Os Deuses Malditos, The Damned, na versão que a Warner distribuiu internacionalmente.Gotterdamerung, La Caduta degli Dei, O Crepúsculo dos Deuses, na versão europeia. O filme nasceu do encontro de lembranças pessoais e políticas com a apreensão de Visconti pelo que antecipava como futuro da Itália. Pier Paolo Pasolini também advertia em seus escritos - e nos filmes - para a rescalada do fascismo na vida italiana. Tudo isso é verdade, mas o verdadeiro motor para Os Deuses Malditos foi uma reflexão que Visconti já vinha fazendo há algum tempo. 

Depois das sagas familiares de Rocco,
 O Leopardo e Vagas Estrelas, em conversas com sua roteirista Suso Cecchi D’Amico, ele manifestou o desejo de radicalizar a ideia da família como célula social. Surgiram assim os Essenbecks, tão poderosos que a própria condição social lhes permite matar e cometer incesto impunemente. Suso deu o start, mas Visconti precisou de outro roteirista, Enrico Medioli, para dar plena vazão às monstruosidades que perseguem/acometem os personagens de Os Deuses Malditos.

Impunes - era a palavra chave para os homens e mulheres que queria criar. O filme começa com um suntuoso jantar na casa da família protagonista. São industriais do aço e Visconti vai usar o fogo da usina, na abertura e no encerramento, para tecer um cerimonial ajustado às encenações do nazismo, que privilegiavam o fogo. O tom é operístico, wagneriano - uma ópera antinazista. O patriarca da família será morto nessa longa noite de loucuras e o poder será enfeixado por Martin, que vai explorar as divisões internas e lançar Essenbeck contra Essenbeck para reinar no clã.

Martin é interpretado por Helmut Berger, que Visconti havia descoberto - e que também seria o seu Ludwig. Martin é perverso - e bissexual. O grande escândalo na cena desse jantar é quando ele faz seu número de Anjo Azul e aparece travestido como Marlene Dietrich. Homossexualismo, bissexualismo, travestismo, incesto, drogas. Não há limites na escalada de
 Os Deuses Malditos. O clima é de decadência. Visconti, que havia integrado a lente zoom à sua estética - especialmente em Vagas Estrelas -, faz aqui seu filme mais duro. Outra obra-prima. O DVD tem como extras trailers e informações sobre vida e obra do diretor.



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